quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Colheita-Ceifeiras - Silva Porto


Nome da Obra:
Colheita-Ceifeiras
Autor:
António Carvalho da Silva Porto
Data:
1893

Período:Pertencente à segunda metade do séc. XIX, e quase no séc. XX, esta pintura está entre o
Realismo e o Naturalismo português. Numa época em que a revolução industrial se espalhava pelo mundo, em Portugal começava a sentir-se os primeiros sopros daquilo a que se viria a transformar em ventos de mudança artística (sabemos que em Portugal tudo chega com um pequeno “delay”). Silva Porto estuda no Porto e vai estagiar em França e depois Itália. Regressa a Portugal onde vai ensinar para Lisboa pintura de paisagem. É um dos fundadores do Naturalismo. Como já disse, o pintor encontra-se entre o Naturalismo e o Realismo, estilos que definem muito bem as formas que são pintadas, assumindo a forma e a proporção e examinando o detalhe de uma maneira quase obcessiva. Esta observação minunciosa é fruto de uma vontade de evasão provocado pelo emergente e abusivo domínio da máquina e da indústria, por cujas mãos surge o capitalismo. Está portanto ligado a ideias socialistas e comunistas que se opõem a este recente choque tecnológico. Silva Porto destaca-se em Portugal, como Millet em França, ou Daumier ou Rosa Bonheur.

Tema:
Esta obra tem um carácter claramente realista. Representa a natureza com extremo detalhe e exprime também uma natureza de carácter social. Mostra uma vida dura em que as asperezas não são poupadas. O olhar da mulher em primeiro plano transmite talvez uma conformação cansada, uma rendição a uma vida de trabalhos. Não mostra a infelicidade, nem a miséria, mas um peso eterno que a postura da segunda mulher dá a notar, mais as cores escuras das suas vestes, reforçado pelos campos infinitos que se estendem nas suas costas. A crítica social é óbvia, mostrando uma classe que é porventura desfavorecida em relação à recentemente emergente burguesia capitalista.

Parece o Alentejo. As cores de vegetação seca e a luz forte dão a sensação de que o dia está quente ou a aquecer, e que o fim do dia de trabalho está longe. Apresenta uma clara semelhança com as “Respigadoras” de Millet.

Técnica:
Esta é uma pintura em tela realizada com tinta de óleo. A pincelada é cuidada como apraz ao bom estilo realista/naturalista. Mais não foi possível saber.

Estrutura Formal:No que toca à estrutura formal, esta pintura apresenta os traços característicos do estilo realista, com pinceladas curtas e cuidadas atingindo com perfeccionismo (e não perfeição) os detalhes. As figuras mostram-se detalhadas em termos de forma e proporção, e é perceptível o movimento que executam, embora não se apresentem impressões ou grafismos que exprimam esse movimento de forma directa; somente a pose assume esse movimento leve e lento.

O quadro é perfeitamente tridimensional apresentando uma clara noção de profundidade pelos campos dourados fora, até à linha do horizonte (situada no primeiro terço da imagem a contar de cima).

A luz e as cores jogam neste quadro, sendo que se nota a franca iluminação do sol sobre os campos secos de tons dourados, mostrando um início de manhã, pois a sombra projectada das duas figuras femininas vai longa e o horizonte apresenta uma coloração mais acizentada (toda a perspectiva vai tornando as tonalidades menos saturadas e mais acizentadas á medida que se aproximam do horizonte). O céu pinta-se de um azul que ganha força à medida que sobe. As cores dos campos não são puras, assim como toda a complexa trama de tonalidades que se mostram nas escuras vestimentas das mulheres.
O horizonte corta a pintura no primeiro terço da pintura a contar de cima e há duas linhas diagonais que atravessam o quadro unindo as cabeças das mulheres e os respectivos pés reforçando a noção perspética da composição (a sombra da mulher em primeiro plano segue essa linha).


Trabalho de:
Gonçalo Costa

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